Versos próprios e resgates únicos da cultura nordestina e nortista movimentam programação musical

Cordelandia/Foto divulgação



“Eu já não suporto mais. Do tempo tantas revoltas. Prazer, por que não me prendes? Mágoa, por que não me soltas? Presente, por que não foges? Passado, por que não voltas?” declamou certa vez Louro do Pajeú, em resposta a Canhotinho, companheiro de cantoria. Batizado Lourival Batista, o poeta e repentista que marcou o país com seus versos e parceria imensuráveis partiu deixando memórias cantadas e escritos, registros em vídeo com documentário produzido pela produtora Página 21 e um legado que sobrevive até hoje com o trabalho do Em Canto e Poesia grupo de São José do Egito, Sertão do Pajeú, que resgata a cantoria do avô Lourival. Formado por Antonio, Greg e Miguel Marinho, carrega em si o resgate da tradição da família e dos poetas, cantadores e repentistas de grandeza da região que ganhará destaque na programação da Semana do Livro de Pernambuco, que acontece desta quarta (dia 30 de novembro) até domingo (dia 04 de dezembro). 

Em Canto e Poesia/Foto divulgação


Na agenda da ação literária e musical, que ainda contará com outras surpresas, o Em Canto e Poesia fará apresentação musical na quinta-feira (dia 01 de dezembro), às 20h, no Palco do Espaço Livro Aberto, trazendo toda a riqueza deste trabalho que resgata a cantoria de grandes nomes brasileiros como o avô, figuras míticas que marcaram história na região e levaram a arte de versar improvisado a um patamar superior como no caso de Biu de Crisanto, Zé de Cazuza, Rogaciano Leite, Manoel Filó, João Batista de Siqueira (Cancão), Antônio Marinho, Jó Patriota, Zé Marcolino e Dedé Monteiro. “O Em Canto e Poesia é formado por três irmãos poetas que continuam levando a tradição daqueles que representaram nossa cultural por todo Brasil em um show voltado a música e poesia”, adianta o produtor do grupo, Amaro Filho. 

Foto Divulgação

Apresentando-se de Norte a Sul do país, o Em Canto e Poesia já consagrou o seu trabalho que reúne poesia de viola, frevo e música urbana contemporânea nos palcos nacionais e nas principais festividades públicas como o Carnaval do Recife (2015 e 2016), em momentos épicos que talvez só possam ser entendidos em edição gravada em DVD no Teatro de Santa Isabel, este ano. Mas, a interpretação de cultural peculiares e dança musicada também estão no tom da agenda da Semana do Livro de Pernambuco com a apresentação do Grupo Cacuriá de Dona Teté, personalidade maranhense reconhecida por seu trabalho parecido com o da pernambucana Dona Selma do Coco, também na quinta (01), às 18h45. Seguindo a tradição da rezadeira e caixeira Almerice da Silva Santos, percussionista e tinha um canto muito forte, conhecida pelo carinhoso nome Dona Teté, apresentará um espetáculo alegre, dinâmico, ao som dos ritmos de carimbó, caroço, valsa e baião inspirado no carimbó de caixeiras. 

O processo de criação buscou elementos singulares que misturam assim como no pastoril a ideia do religioso e do profano. Tipicamente maranhense com influências da Festa do Divino Espírito Santo, o espetáculo de dança traz passos característicos da dança original (inventada por Seu Lauro, no ano de 1973) que identificam e expressam a teatralidade e a sensualidade latente de brincadeiras, ritmos, movimentos de quadris e letra de canções, comuns a manifestações populares brasileiras já conhecidas pelo público (como Bumba-meu boi, Baião Cruzado e outros). “O Cacuriá é uma dança muito parecida com o carimbo e tens suas próprias características que fazem essa mistura religiosa e profana que integram a tradição de brincadeiras de roda, como o conhecido pastoril“, diz Amaro Filho, que também produz do grupo, que se apresenta na Semana do Livro com 20 integrantes entre músicos e dançarinos.

Realizada pela Cia de Eventos e a Ideação, a Semana do Livro de Pernambuco movimenta de 30 de novembro a 04 de dezembro, das 14h às 20h, no Museu do Estado, cerca de 40 atividades variadas numa ambiência literária e cultural agregando diversas ações que se pautam nessas distintas vertentes que expressam a força das letras e da leitura na atualidade. Teremos desta forma a presença de nomes nacionais como a pesquisadora e escritora Elvira Vigna, o jornalista e autor premiado com o Jabuti José Castello, o escritor e cientista político paulista Bernardo Kucinski e a tradutora e escritora Ivone Benedetti, autora de “Cabo de guerra” (Boitempo) que entram com discussões sobre os novos olhares e pensamentos da política e sociedade hoje. Nomes locais também brilham assim como os escritores nacionais como Raimundo Carrero, Sidney Nicéas, Carla Denise, Valdir Oliveira, Sidney Rocha e Silvério Pessoa que trazem seus novos trabalhos na forma de lançamentos, bate-papos e intervenções com o público. 

O acesso é gratuito e tudo acontece no auditório do Museu do Estado (Espaço Cícero Dias) e na Área Externa do MEPE onde estão localizados o “Espaço Livro Aberto” e a “Bienalzinha”, ambientes que contarão com ampla agenda a ser conferida no site (http://semanadolivrodepernambuco.com.br/). Os visitantes da Semana do Livro de Pernambuco terão acesso pelas entradas do Museu do Estado, mas vagas de estacionamento atenderão portadores de necessidades especiais e funcionários do MEPE.


SERVIÇO:
Quando: De 30 de novembro (quarta) a 04 de dezembro (domingo), das 14h às 20h.
Onde: Museu do Estado de Pernambuco – Av. Rui Barbosa, 960, Graças, Recife-PE.