Projetos dos Prazeres distribuem amor e alegria pelo Carnaval do Recife

Foto: Divulgação

Quem vai ao Morro da Conceição percebe que lá reside um terreno fértil para as expressões   populares, onde a tradição e o novo se unem, através da articulação social e da valorização da  identidade de  todos que fazem a comunidade. Em outras palavras, o morro é uma mãe, que acolhe quem chega e guia quem é de casa. E é de lá que descem três grandes iniciativas  idealizadas  pela  família  Dos  Prazeres,  frutos  da aprendizagem pela prática cultural, do resgate de saberes, de crenças e valores.
Para quem não sabe, esses projetos nasceram das atividades do Centro de Formação do Educador Popular Maria da Conceição, fundado em 1982. A personalidade que empresta seu nome à instituição é conhecida até hoje por seus conselhos, curas com ervas e benzas, sem falar da simpatia e carinho que ultrapassavam a barreira familiar, alcançando vizinhos e demais moradores da região. Este ano, o Carnaval do Recife será tomado por este amor, que acolhe e reverbera a multitude de cores e sons que compõem a cidade.


Foto: Divulgação
No Domingo de Carnaval, 2 de março, a Orquestra dos Prazeres chega com 18 integrantes, para fazer uma apresentação em homenagem às raízes afro, no polo de Chão de Estrelas, às 21h. A Orquestra é regida por Lucas dos Prazeres, que observa com cuidado o equilíbio entre instrumentos como alfaias, ilús, congas, ajubês e agogôs. O projeto engloba um conjunto heterogêneo de instrumentos acumulados nas viagens do artista: “Instrumentos são como pessoas. Cada um é de um jeito, e assim como a gente tenta harmonizar nossos dias a partir da convivência, aqui também procuramos a harmonia pelas diferenças”, explica.
Foto: Divulgação
E foi assim que em 2010, teve início o projeto Lucas e a Orquestra dos Prazeres. Nascido num ambiente cercado de dança e manifestações culturais, Lucas dos Prazeres também foi aprendiz no centro cultural defendido por sua família, e ainda adolescente atraiu a atenção da nova geração de músicos pernambucanos. Hoje, aos 29 anos de idade e 18 de carreira, acumula experiência que lhe expandiu os horizontes musicais e territoriais: engatou parcerias com nomes do quilate de Naná Vasconcelos, Elba Ramalho, Lula Queiroga, Geraldo Maia, e percorreu países como Noruega, França, Portugal, Alemanha, Áustria, Inglaterra, Holanda, Bélgica e Estados Unidos.

Já o Bloco Afro Raízes de Quilombo começou com 8 membros, que trabalhavam a reflexão de temas importantes à sociedade, através de poesias e letras emolduradas pelo ritmo da percussão. Os palcos não foram suficientes para segurar tanto talento, que tomou as ruas do Morro a partir de 1986, com um cortejo de cerca de 200 membros na percussão. Este ano, o Raízes faz uma série de apresentações especiais no Morro da Conceição (16h), Pátio do Terço (17h30), no Polo de Areias (20h) e no polo do Vasco da Gama (22h), todas no Domingo de Carnaval (02/03).
Foto: Divulgação
O mais recente projeto saído da fábrica de criação de Lucas dos Prazeres, e que também participa do Carnaval 2014 é o “Pra Bailar”, no qual o artista coloca em primeiro plano a sua voz, para fazer o público se divertir com um repertório cheio de suíngue. Acompanhado de uma banda, diferente dos seus últimos projetos, onde os instrumentos percussivos dominavam o palco, Lucas dá nova roupagem a composições de Pedro Luís, Nação Zumbi, Lula Queiroga e Chico César. O suíngue fica por conta da guitarra de Yuri Queiroga, do baixo de Lucas Crasto, da viola de Pepê de Cavaleiro, da percussão de Amendoim, da bateria de Perna, e dos metais, com Parrô no sax, e Deco no trombone, além do multi-instrumentista Juliano Holanda. Quem quiser curtir o bailinho terá duas oportunidades: na Praça do Arsenal, na segunda-feira (3), às 22h20, e na Várzea, na Terça-feira Gorda (4), às 20h.

“Temos uma fonte de riqueza incalculável em nossa história. E ela tem o poder de nos libertar, de nos mover. Para ativá-la, basta olhar com carinho para trás”, diz Conceição dos Prazeres, que por muitos anos esteve à frente do centro cultural que honrou o legado de sua mãe. Ela e os demais integrantes do projeto perceberam o poder da arte na criação de alternativas coletivas que pudessem atender as necessidades que surgiam na comunidade.

Para Lucas e Dona Conceição, o carnaval é uma ótima oportunidade para que os filhos de todos os morros reconheçam a cidade como uma mãe que precisa ser resgatada em toda a sua riqueza cultural, e que a generosidade típica de toda matriarca reverbere na força de seus filhos para perpetuar a tradição.