A influência da emoção e da razão nas disputas eleitorais

Antonio Lavareda/Foto Sônia Mele
 
 
O cientista político Antonio Lavareda (MCI) é destaque no Jornal da Câmara deste mês de agosto, nº 2506, em matéria do jornalista Roberto Seabra, sobre a "a influência da emoção e da razão nas disputas eleitorais", alusiva à sua última obra, lançada ano passado, "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais".
 
Seabra diz, em perfil sobre Lavareda que ele já participou de 76 campanhas eleitorais e acompanha desde os anos 80 o cenário político brasileiro e internacional. Estudou também o voto do eleitor brasileiro pré-1964, antes que os militares cassassem os direitos políticos de toda uma geração. Ainda: "O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, 'oráculo de partidos e candidatos', nas palavras da jornalista Dora Kramer, acaba de lançar o livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais (Editora Objetiva, 312 páginas), no qual analisa de que forma os aspectos emocionais podem influenciar uma eleição. A partir de disputas eleitorais ocorridas no Brasil e em outros países, Lavareda mostra os limites da razão na hora do voto e de que forma os elementos afetivos podem decidir uma eleição".
 
Segundo o Jornal da Câmara, Lavareda também analisa as pesquisas eleitorais, as alianças políticas, o marketing nas campanhas, com especial atenção para a influência da internet - e sugere mudanças na legislação eleitoral para tornar as campanhas mais informativas e mais baratas. Discute, ainda, temas como as diferenças entre o voto masculino e o feminino e a importância da música (o jingle político) nas eleições. Abaixo alguns tópicos resultantes da entrevista com Antonio Lavareda.
 
Razão x emoção
 
Seguindo vários estudos sobre os limites da razão nas decisões políticas dos eleitores, Lavareda mostra que a nossa capacidade de armazenar e processar informações sobre a realidade que nos cerca é reduzida, o que dá mais peso ao papel da emoção nesse processo de escolha eleitoral. Lavareda analisa, por exemplo, a importância da ansiedade na hora do voto, ligada diretamente a momentos de crise econômica ou política. "Quando não estão ansiosos, os eleitores recorrem aos seus hábitos políticos para fazerem suas escolhas eleitorais", explica. Mas ressalta também que a simples ausência de ansiedade, por sua vez, não significa que o eleitor vá favorecer o seu candidato ou partido habitual. "Se não for estimulado o entusiasmo necessário na base, não haverá a participação desejada (contribuições ou voto, por exemplo)". A eleição de Barack Obama em 2008 é um bom exemplo de como a ansiedade do povo norte-americano diante da crise financeira, aliada a uma boa campanha de comunicação, permitiu pela primeira vez a vitória de um presidente negro na história dos Estados Unidos.
 
Partidos políticos
 
Pesquisas eleitorais mostram que os partidos políticos aparecem sempre na "lanterna" em qualquer ranking de credibilidade das instituições. Entretanto, Lavareda analisa pesquisa feita em maio de 2009 pelo Instituto Vox Populi, na qual avalia individualmente o tema da preferência partidária dos eleitores, sem confrontá-la com outras instituições. A pesquisa revela que mais da metade dos brasileiros (51%) cita uma das legendas existentes como sua predileta, e cerca de dois terços dos brasileiros (67%) não expressam rejeição por nenhum dos partidos. Segundo Lavareda, o Chile, considerado pelo cientista político italiano Giovanni Sartori como "modelo político" na América Latina, o índice de preferência por um partido atinge cerca de 55% da população. Para o autor, a pesquisa mostra que os partidos brasileiros têm um campo fértil para crescer, se souberem trabalhar bem. E sugere que os dirigentes partidários invistam em um esforço vigoroso de democratização interna; mantenham o foco em poucas questões, de forte apelo simbólico; façam campanhas inteligentes de recrutamento de filiados; façam um esforço para conectar-se com organizações da sociedade civil; e, por último, façam uma comunicação moderna e com forte apelo emocional.
 
Legislação eleitoral
 
O livro de Lavareda traz a opinião de vários marqueteiros políticos, que trabalharam nas campanhas vitoriosas de Lula, Obama e Gilberto Kassab. Quando o tema é legislação eleitoral, por exemplo, vários deles elogiam o modelo brasileiro. "Na Argentina, por exemplo, desde que você tenha dinheiro para comprar espaço de televisão, você usa como quiser, praticamente não há regras, tornando a meu ver a concorrência desleal", opina o publicitário Duda Mendonça, que dirigiu a campanha de Lula em 2002. Ainda segundo ele, em Portugal há o inverso. "É praticamente proibido o uso de televisão, o que dificulta alguém desconhecido aparecer e conquistar o eleitor", diz Mendonça. Já Luiz Gonzalez, marqueteiro de Kassab em 2008, defende um aprimoramento da nossa legislação, pois a que está em vigor, segundo ele, é muito restritiva. Ele critica, por exemplo, a proibição de uso de imagens externas nas inserções da TV. Lavareda concorda com a crítica e lembra que a proibição de imagens externas encareceu a propaganda na televisão, ao invés de reduzir os custos, como foi imaginado pelos legisladores.
 
Internet x televisão
 
O livro de Lavareda traz um depoimento de Ben Self, coordenador de campanha de Obama na internet. O norte-americano afirma que a rede mundial de computadores transformou a "paixão política" pelo candidato democrata em ações políticas reais e significativas. "Por meio de ferramentas como my.barackobama.com, centenas de milhares de eventos off-line foram planejados, e permitiram às pessoas interagirem com a campanha, mesmo sem usar o computador". Mas esse crescimento da internet, segundo Lavareda, ainda não estremeceu a importância da televisão. O cientista político lembra que na campanha de 2008 nos Estados Unidos (a pátria da internet), foram gastos 2,4 bilhões de dólares com propaganda em televisão. "Uma soma 35% maior do que a da eleição anterior, em 2004", explica Lavareda.
 
Voto feminino
 
Estudos feitos nos Estados Unidos e citados por Lavareda mostram que lá, onde o voto não é obrigatório, as mulheres votam mais do que os homens. Segundo a pesquisadora Linda Hirshman, citada por Lavareda, os homens votam porque gostam de política, enquanto as mulheres votam para proteger seus interesses. A explicação, segundo Lavareda, tem a ver com a agenda feminina contemporânea, concentrada principalmente em assuntos como saúde, educação das crianças, segurança pública, e nas questões que interferem no orçamento doméstico, como a energia, os preços e a qualidade dos alimentos. "Uma agenda focada na defesa da família", disse, o que explicaria o voto mais racional dado pelas mulheres.
 
Música e política
 
A cada quatro anos os eleitores brasileiros conhecem uma nova safra de musiquinhas de campanha, os chamados jingles. Lavareda mostra em seu livro que, por conta de nossos traços culturais, a musicalidade é muito presente nas eleições. Alguns comerciais de partidos são, na visão do cientista político, verdadeiros clipes musicais. "São música, letra e imagens apenas", diz Lavareda. O fenômeno, segundo ele, se estende para outros países da América Latina e vem exercendo cada vez mais influência nas eleições. Até as falas dos candidatos vêm acompanhadas de música, de forma a tornar a propaganda política mais atraente. Levantamento feito por ele mostra que, dos comerciais brasileiros analisados, 11% utilizaram jingles no todo ou em parte.Assessoria de Imprensa/SL Comunicação & Marketing (81) 3423.0814 
 
 

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