ENTREVISTA - ARMANDO MONTEIRO

O deputado federal e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro (PTB), apresenta à imprensa pernambucana nesta segunda-feira (14), às 11h, o seu novo site, www.armandomonteiro.com.br. Idealizado para ser um ambiente de interação permanente com os internautas, o espaço pretende estimular o debate ao apresentar as ideias de Armando Monteiro e o trabalho que tem desenvolvido tanto na Câmara dos Deputados – está em seu terceiro mandato – quanto à frente de entidades como a Fiepe, SESI, SENAI e IEL, ligadas à CNI.
Tudo isso com espaço aberto para os comentários do leitor. Outra novidade do projeto é a inclusão das novas redes sociais da internet, para o contato com públicos que utilizam blogs, Twitter, Facebook, YouTube e Orkut. Em todos esses canais, Armando Monteiro terá a sua página personalizada, onde também apresentará ideias e projetos. Haverá ainda opções de downloads de vídeos, fotos e podcasts. Durante a apresentação do site – que acontecerá no hotel Mercure, na Ilha do Leite, a partir das 11h -, o parlamentar pernambucano fala sobre esse novo espaço de comunicação com a população e também sobre economia e política em Pernambuco e no Brasil.
Abaixo, a entrevista que Armando Monteiro concedeu para a inauguração do site, falando sobre diversas questões, desde pessoais à crise no Senado e ao desafio de preparar os pernambucanos para que eles fiquem com os melhores empregos gerados pelos grandes projetos que chegam ao Estado.
“A continuidade é fundamental em 2010”

Lula e Armando Monteiro/Foto Miguel Ãngelo



O interesse pela política - Sempre gostei de política e tudo isso em função daquilo que eu participava na minha casa. Meu pai era político. E as conversas me agradavam muito. As conversas lá no terraço da nossa casa. Eu tinha um grande interesse e nesse momento estava sempre muito ligado às conversas políticas. E aí fui criando gosto. E depois a política estudantil me exerceu também um apelo muito forte, de participação, de engajamento, sobretudo quando entrei no ginásio, no Colégio Nóbrega. Eu participava de debates, de júris. Lembro de alguns momentos memoráveis dessa discussão, já formando uma consciência sobre os problemas sociais, iniciando o estudo de sociologia, aqueles livros do Padre Lebret. Foi um momento em que eu fui formando uma consciência. Mas a política teve sempre um apelo, desde muito cedo, sobretudo por essa convivência com os políticos que eu tinha na minha própria casa.
Valores da política que o atraíram - Primeiro essa sedução que o discurso na política sempre exerceu. A capacidade de você poder, através do discurso, convencer, mobilizar as pessoas, despertá-las, mobilizá-las. Isso sempre me impressionou muito, a força do discurso na política. E a consciência de que ela é um instrumento fundamental no processo de transformação de uma sociedade. Quer dizer, não se faz nada a não ser pela via da política. Então de alguma forma essa consciência de que a política é um instrumento de poder, e o poder para transformar, para mudar, para melhorar a vida das pessoas.
A influência política do pai - Em meu pai sempre a capacidade que ele teve de assumir posições, mesmo assumindo riscos, mesmo desafiando certas conveniências, porque era um empresário que ao mesmo tempo tinha um engajamento político, que naqueles tempos duros da ditadura se postou do lado das forças democráticas e que não se furtou de em momentos inclusive difíceis se apresentar para a disputa, como fez em 1966, quando disputou o Senado.

E também a capacidade de desafiar certas situações que estavam colocadas - Por exemplo, ele foi candidato ao governo em 1962, eu tinha dez anos nessa época e lembro de uma campanha belíssima que ele fez. Não tinha condições reais na disputa, porque ele foi um dissidente do PSD na época. Ele disputou por uma legenda pequena que era o PSP, mas foi até o fim, mantendo uma posição de coerência, afirmando uma posição independente. Preferiu tomar esse caminho do que fazer uma composição que não pudesse corresponder aos compromissos que ele havia assumido.

Essa capacidade de meu pai de poder, por idealismo, se colocar sempre, e desafiar certos limites, isso sempre me impressionou muito. E não de considerar a política apenas como um instrumento colocado a serviço de si próprio. Pelo contrário. A política foi para ele, durante algum tempo até, algo que conflitava com os interesses empresariais e familiares. Então essa demonstração de idealismo, de crença, de convicção, isso tudo sempre me fascinou na trajetória dele. A ponto de alguns imaginarem que faltou um pouco na trajetória dele uma certa dose de pragmatismo. Mas entre os exemplos de idealismo e essa coisa do pragmatismo estreito, prefiro ficar com essa visão mais idealista do processo político.

O governo Eduardo Campos - Um governo que está fazendo a diferença em Pernambuco, que está assumindo posturas inovadoras. Na gestão pública, por exemplo. Pernambuco tinha um modelo de gestão pública muito desatualizado, de certa forma anacrônico. Eduardo encarou a necessidade de promover uma mudança no modelo de gestão pública, indo buscar inclusive consultorias especializadas, revendo processos administrativos. Na área de gestão de pessoal, introduzindo conceitos novos de avaliação de desempenho, de premiação, de incentivos em certos aspectos. Ele está inaugurando um novo modelo de gestão pública, fundado na compreensão de que é preciso eficiência. Quanto menos recursos, quanto mais pobre uma região, mais obrigação o gestor público tem de ser austero e de ser eficiente.

Com origem na esquerda, Eduardo tem a compreensão muito moderna de que eficiência de gestão, responsabilidade fiscal, não é algo que conflite com a sensibilidade social. Pelo contrário, não há política sociais sustentáveis sem regimes fiscais responsáveis. Então essa compreensão, que muitas vezes a esquerda não tinha, Eduardo tem. O Estado de Pernambuco tem hoje uma capacidade de investimento maior, para gerar contrapartidas, para implementar os programas que são do interesse do Estado em várias áreas.

Um outro ponto que destaco é a postura muito pró-ativa, muito atenta na disputa de investimentos privados que hoje estão chegando a Pernambuco. Eu que atuo no ambiente empresarial do Brasil posso dar o testemunho de que de todos os grandes projetos que vêm para o Nordeste, Pernambuco está disputando esses investimentos, está se apresentando, está mostrando quais as vantagens que pode oferecer. E por isso já é possível registrar a conquista de vários empreendimentos importantes para Pernambuco. Essa é uma outra postura, uma postura ativa, articulada, e muito presente, quando estão em jogo os interesses do Estado.

O governo Eduardo Campos na área social - Eu acho que há uma preocupação muito grande. Por conta de sua trajetória, ele tem uma compreensão do quadro social, das carências, das dificuldades de Pernambuco, e por isso mesmo ele vem conferindo uma grande importância à área de educação em Pernambuco.

O governo Eduardo Campos vem promovendo na área educacional uma revolução em Pernambuco. Não só porque recuperou escolas. Ele está criando um sistema de incentivos aos professores, estimulando, fazendo uma avaliação de desempenho do sistema. Há também esse programa na área de escolas técnicas. Dentro de pouco tempo nós vamos chegar a 11 novas unidades de escolas técnicas, estimulando muito essa questão do ensino médio ligado ao ensino técnico. Isso tudo em diversas regiões do Estado. Então eu acho essa uma marca importante.

Há alguns programas assistenciais que ele vem oferecendo, mas sem perder de vista que o caráter verdadeiramente emancipatório dos programas tem que estar associado a um esforço maior na área de educação. Só a educação gera a cidadania verdadeira. Então ele tem essa compreensão e tem claramente priorizado essas ações mais estruturantes na área de educação.

Apoio ao novo modelo de gestão estadual - Eu conhecia uma experiência que vem sendo capitaneada no Brasil pelo setor empresarial privado, e liderada por uma figura extraordinária, que é a do empresário Jorge Gerdau, um programa que se chama Movimento Brasil Competitivo (MBC). Esse programa tem a compreensão de que não interessa apenas ter empresas competitivas, nós precisamos ter um ambiente competitivo. Ou seja, a competitividade é algo que vai além dos limites da empresa. E para que você tenha um ambiente competitivo, o setor público tem que se modernizar, tem que ganhar eficiência. Por isso esse programa traz a possibilidade de que grandes empresas invistam, ofereçam aos Estados um suporte de consultoria, para que os Estados realizem esse processo de estruturação.

O MBC está associado ao Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial (INDG), considerado o melhor do Brasil e ligado à Fundação Dom Cabral. Conseguimos então fazer essa aproximação entre o Governo do Estado e o movimento. Desde o primeiro momento o governador Eduardo Campos entendeu que isso era uma grande oportunidade para Pernambuco e logo nós estávamos fazendo um convênio.

Pernambuco começou a trabalhar elegendo três áreas prioritárias: saúde, segurança e a parte de custeio de uma maneira geral. Esses programas têm metas, têm objetivos, e eu tenho hoje um testemunho do Jorge Gerdau e dos líderes do Brasil Competitivo que a experiência mais exitosa do Brasil nessa área tem sido a de Pernambuco. E eles dizem que isso só aconteceu porque o governador, pessoalmente, assumiu a condução desse projeto.

O governador participa das reuniões, acompanha a métrica da avaliação do desempenho dos programas. Ele se identificou com essas ferramentas de avaliação, transmitiu à equipe, motivou a equipe, para que ela pudesse entender a importância disso. E começamos a colher os resultados, que se traduzem em economia, racionalização dos gastos no custeio para ampliar os investimentos nas áreas fins, mais dinheiro para educação, para as políticas públicas, para a segurança, para a infra-estrutura.

O governo Lula e o setor empresarial - Eu vou lhe contar um detalhe interessante. Eu estava chegando à presidência da CNI em 2002. E a CNI promoveu na época um debate com os então candidatos à Presidência da República, na própria CNI. E eu lembro que tivemos no início uma certa dificuldade para convencer a assessoria do então candidato Lula nesse debate. Havia um certo receio de que ele não pudesse ser tão bem recebido quanto os outros candidatos.

E eu tive a oportunidade de eu próprio ligar para o então candidato e dizer: “Olha, a sua presença é muito importante porque está na hora exatamente de quebrar um pouco esse preconceito de parte a parte”. O presidente Lula foi ao debate e saiu-se bem. Mas eu diria que mais importante e surpreendente do que o desempenho dele no debate foi a postura que ele logo evidenciou nos primeiros momentos do governo. Ou seja, a compreensão de que aquela política macro-econômica tinha que ser preservada nos seus fundamentos essenciais. Que não adiantava mudar a política fiscal, a política monetária, porque isso poderia pôr em risco todo o processo de ajuste, de estabilização da economia brasileira.

Então ele foi alguém capaz de entender que essa agenda da estabilidade era importante para o país. Às vezes tendo de enfrentar a incompreensão de alguns setores que historicamente eram ligados a ele. Ao mesmo tempo, através de políticas sociais afirmativas, mostrou que esse compromisso que ele tem com o processo de mudança na área social não se expressa na mudança das políticas macroeconômicas, mas na ênfase que se dá às políticas sociais.

E aí ele pôde conjugar estabilidade no plano econômico, o Brasil foi ganhando a confiança do mundo, de investidores internos e externos, com uma política responsável. Ao mesmo tempo, aprofundou esse compromisso com a área social, que está expresso na ampliação dos programas sociais, numa política voltada por exemplo para corrigir o salário mínimo em valores reais e um forte compromisso de apoiar ações voltadas para essa questão do desenvolvimento social.

Então, o presidente Lula pôde revelar-se um líder que não abdicou de seu compromisso genuíno que tem com a mudança da realidade social do Brasil. E ao mesmo tempo o senso de responsabilidade para preservar os pilares fundamentais da política macroeconômica.

Em 2010: mudança ou continuidade? - O presidente Lula teve a grandeza de preservar alguns compromissos que foram afirmados no governo anterior, como a estabilidade da economia, a manutenção do compromisso de não fazer concessões nessa área, de manter a inflação baixa e preservar o poder de compra da população, porque a inflação era um perverso imposto, que subtraia a renda dos mais necessitados.

Do mesmo modo que o presidente Lula teve essa compreensão, qualquer que venha a ser o presidente da República há de compreender que os programas na área social precisam ser ampliados. Não é possível retroceder nisso. Os indicadores de distribuição de renda do Brasil melhoraram extraordinariamente. Houve a emergência de uma nova classe média no Brasil, de alguns setores que estavam um pouco excluídos até do processo econômico, e que passaram a se integrar.

Eu diria o seguinte: qualquer que venha a ser o governante, ele tem que ter um compromisso muito claro com a manutenção de políticas sociais, incorporando até uma dimensão, para que elas possam ter um caráter cada vez mais emancipatório também. Mas esse compromisso fundamental com a correção dos desníveis sociais do Brasil, com o enfrentamento desse desequilíbrio, tanto no plano regional quanto no interpessoal da distribuição de renda, isso é algo que hoje qualquer governante tem que ter um compromisso claro no Brasil. O ideal é que seja alguém que tenha claramente uma identificação com o que foi feito nos últimos anos. Então eu acho que o Brasil ganharia muito mais se pudesse fazer a continuidade de alguns programas, com algumas correções de rumo, e que isso pudesse ser conduzido por pessoas que tivessem um claro compromisso com essas políticas.

E no caso de Pernambuco, especialmente, é mais do que nunca necessário que se dê continuidade a algumas ações estruturadoras que começam a produzir frutos concretos. Não só a maturação dos grandes projetos que estão chegando, mas essa capacitação de Pernambuco através da qualificação das pessoas, das empresas, para esse novo momento de nossa economia, que terá de ser marcado por uma maior inclusão e sobretudo também pela correção de alguns desequilíbrios que ainda percebemos. Então eu acho que a linha fundamental deve ser a da continuidade dessas posturas que tantos resultados produziram para o país e para Pernambuco nos últimos anos.

A crise do Senado e a política - Eu acho que as instituições, o sistema democrático, precisa ser aperfeiçoado. O Brasil precisa melhorar a governança política, precisa promover uma reforma política, precisa de partidos com mais representatividade. O Brasil precisa de um sistema político que corresponda, que aproxime a representação do eleitor.

Nós precisamos fazer muito ainda. Mas há algo que é muito importante para a democracia, que é a postura e o desempenho dos políticos. Há mazelas, maus exemplos, mas há também bons exemplos na vida pública. E é preciso que se compreenda que é perfeitamente possível, em meio a todas essas dificuldades, ir contribuindo com o aperfeiçoamento das instituições.

Essa crise do senado revela o descompromisso da representação política em grande medida, que se traduz na idéia de que essa crise não é personificada apenas pela figura de Sarney. O Sarney foi eleito várias vezes para a presidência, e pelos seus pares. E essas mazelas do Senado decorrem da omissão e da alienação de muitos senadores, que deixaram que essa situação toda lá no Senado acontecesse.

Então eu acho que essas próximas eleições vão ser marcadas por uma grande preocupação do eleitor de renovar essa representação, de tentar qualificá-la. E eu espero também que essa crise possa nos levar a uma situação em que se tenha um controle social maior sobre essas instituições, ou seja, que o representado, que é o cidadão eleitor, se aproxime, que acompanhe mais proximamente o desempenho, o trabalho dessas casas legislativas. Não há outra forma de poder obrigar a representação política a prestar contas e a estar sintonizada com os anseios da população.

As arengas políticas em Pernambuco - Pernambuco é um estado politizado e que foi marcado sempre por disputas mais acesas, muito fortes, e com um viés ideológico muito nítido. Há quem diga, os estudiosos políticos, os analistas, que dois estados, ao longo de nossa trajetória republicana, de nossa formação política, revelam esses traços muito fortemente; Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Então esses embates, que em Pernambuco adquiriram esse caráter mais ideológico, e muitas vezes até de um certo confronto de classes, resvalavam sempre para posturas mais radicalizadas. Isso atrapalhou Pernambuco. O Estado viveu um longo tempo de estagnação econômica, exatamente porque suas elites não tiveram a capacidade de construir uma visão minimamente convergente sobre os nossos objetivos estratégicos fundamentais. Então o Estado perdeu essa visão de médio e longo prazo.

Felizmente, nós começamos a perceber, e o governador Eduardo Campos dá uma contribuição importante a esse desarmamento e a esse chamamento, o que nós devemos fazer, todos os políticos, independente de partidos, para que possamos preservar algumas linhas programáticas fundamentais que vão levar Pernambuco a esse futuro que nós desejamos. Então o cidadão tem cada vez mais a compreensão de que as arengas não conduzem a nada. Mas ao mesmo tempo é importante registrar que não se deve abdicar de certas posturas, ou seja, preservar as nossas identidades políticas. Mas ter a capacidade de diálogo para entender que os interesses do Estado às vezes nos levam até a promover alianças com os nossos adversários, se isto for necessário.

Inclusão das pessoas - Não é só fábricas ou a visão de que só a máquina, ela em si, pode produzir o desenvolvimento. É fundamentalmente o processo de capacitação das pessoas. Mas acho que é importante ter uma visão do processo econômico, das exigências da nova economia, da complexidade da chamada economia do conhecimento, desse processo de acirramento da competição em escala global. O processo de desenvolvimento é em si mesmo o processo de eleição do mais apto, do mais capaz. Então para que você se coloque nesse processo, que é uma corrida, nós temos que fazer um grande esforço para nos colocarmos nesse ritmo. E aí isso passa pela educação, que é o pilar fundamental, e do lado empresarial pela capacidade das empresas de incorporarem a inovação crescentemente, inovar no seu modelo de negócio, inovar nos processos, inovar no produto. Então isso é algo fundamental para o futuro.

O desafio de Pernambuco - O desafio de Pernambuco é colocar-se à altura desse novo momento da economia que está sendo marcado pela vinda de novos projetos, de projetos que têm características diferentes, e que exigem amplamente uma maior qualificação de todos os agentes, sejam eles públicos ou privados. Esse novo perfil da economia de Pernambuco vai exigir sempre melhor padrão na gestão pública, melhor e maior participação do setor privado da economia e mais qualificação de todos os agentes que estão voltados para esse processo.

Empregos para os pernambucanos - Esse deve ser o grande desafio. Gerar oportunidades para o jovem e para o adulto que se requalifica em Pernambuco. Para os homens e as mulheres de Pernambuco. Não há desenvolvimento pleno se ele não se traduzir na melhoria das condições de vida dos pernambucanos. Esse é o nosso desafio. O desafio do governo, o desafio da sociedade. Vamos fazer Pernambuco um estado capaz de poder distribuir melhor os frutos do processo de desenvolvimento. E isso só se dará verdadeiramente pela via da educação e da capacitação dos pernambucanos.

Capacitação e renovação - Embora tendo no seu processo de desenvolvimento uma presença de setores mais tradicionais, que ainda são importantes, o que está marcando a economia de Pernambuco nos últimos anos é que nós estamos recebendo projetos que estão mudando a matriz industrial do Estado. Ou seja, são plantas na área, por exemplo, da farmacoquímica, da petroquímica, da construção naval. Nós vamos ter um polo, um grande estaleiro em Pernambuco, e um polo de navipeças, de componentes para a indústria naval. Nós vamos ter que produzir equipamentos e bens de capital para atender a essa indústria.

Portanto, esse é o desafio de um Estado que mudou a sua matriz industrial, e que por isso precisa de novos perfis profissionais. O trabalhador pernambucano precisa ter um novo perfil profissional. Aí é que entra o esforço de entidades e instituições, para não só aumentar a escolaridade do trabalhador, que é ainda, no Brasil, deficiente. Elevar a escolaridade para que ele possa absorver os programas de treinamento, de capacitação, que exigem uma base de conhecimento mínimo. Então é o conceito de educação articulada. Educação básica ligada à educação profissional.

E esse é um desafio que vai além do governo de Pernambuco. É um desafio da sociedade pernambucana como um todo, da comunidade empresarial. Pernambuco deve realizar um grande esforço para aproveitar essas oportunidades e para dar resposta a essas demandas que estão surgindo.

Senai prepara 45 mil pernambucanos - Cabe lembrar o esforço do SENAI em Pernambuco, que tem tido orçamentos crescentes no Estado e que realizou grandes investimentos. Só esse ano, a entidade vai capacitar 45 mil pernambucanos, através de cursos de menor e maior duração, em diversas áreas, desde o curso do soldador, do caldeireiro, que está trabalhando na refinaria, do eletromecânico, daquele que vai atuar em sistemas lógicos programáveis, na área de automação industrial, em suma, é um esforço para que Pernambuco se habilite, para que o pernambucano possa participar desse processo.

Interiorização do Desenvolvimento - Esse é um grande desafio. Creio que o governador Eduardo Campos tem manifestado uma permanente preocupação com essa questão, de como distribuir espacialmente essas oportunidades que estão surgindo em Pernambuco. Nós sabemos que há regiões que têm uma melhor dotação de infraestrutura e não se pode imaginar que o empresário, do ponto de vista privado, vá localizar a sua planta industrial em função de critérios que não sejam os de eficiência e racionalidade econômica. Mas ao mesmo tempo o governo tem um poder indutor.

O que é que tem feito o governo Eduardo Campos? Tem dado mais incentivos fiscais a projetos que se localizam fora da área metropolitana. Em grande medida, quando conquistamos a planta da Perdigão e da Sadia, por exemplo, uma no Agreste Meridional e outra aqui mais próxima do Agreste Setentrional, isso se deu pela forma com que o Estado utilizou os instrumentos e os incentivos fiscais.

Mas temos que fazer muito mais ainda, para criar uma nova dinâmica de desenvolvimento de Pernambuco, integrando essas regiões. Algumas têm vocações naturais que não podem ser abandonadas. Por exemplo, no Agreste Setentrional consolidou-se um grande polo de confecções: Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe. É algo muito expressivo que gera hoje empregos de forma muito significativa em Pernambuco. Qual é o desafio? É poder dar um suporte a esse polo, para que ele sobreviva. Produtos de melhor qualidade, mais design, mais aporte de conhecimentos e de suporte gerencial às pequenas empresas que lá estão. O Sebrae está nisso. O SENAI também implantou um centro de design, inaugurou uma nova escola em Santa Cruz do Capibaribe e ampliou a unidade de Caruaru.

Contribuições da CNI para Pernambuco - Foi para nós uma oportunidade poder estar na presidência da Confederação Nacional da Indústria e apoiar os projetos de Pernambuco. Não em função da minha circunstância de pernambucanidade apenas – e me sinto muito estimulado em apoiar aquilo que é de interesse de Pernambuco –, mas também porque o Estado tem apresentado bons projetos ao Sistema CNI, que se encaixam dentro das linhas programáticas fundamentais da entidade.

Então, por exemplo, o SENAI de Pernambuco recebeu o maior aporte de recursos do sistema nos últimos anos, e graças a esse aporte nós fizemos uma requalificação, uma profunda modernização e ampliação do sistema SENAI em Pernambuco. Novas escolas que foram implantadas, uma grande unidade em Petrolina, por exemplo, que é unidade referência no Brasil, que apóia o polo de fruticultura, para dar suporte a essa agroindústria que se deseja instalar, usinas-piloto de processamento de alimentos, com laboratórios de última geração para análise físico-química dos produtos.

Implantamos uma unidade em Santa Cruz do Capibaribe, atendendo ao polo de confecções, uma unidade em Garanhuns voltada para o apoio à indústria de laticínios, aquele polo de produção do leite, e que agora está atuando muito fortemente para dar suporte a essa unidade da Perdigão, que está se implantando lá em Bom Conselho, no Agreste Meridional, e que se utiliza dessa unidades de Garanhuns. O grande investimento aqui no Cabo, da escola que está atendendo às novas demandas lá do polo de Suape. Então esse programa de investimentos, ele foi feito com um forte apoio do Sistema Nacional, Sistema da CNI, em parceria com a Federação das Indústrias de Pernambuco, que teve o grande mérito de apresentar bons projetos ao sistema, que deveriam ser apoiados e que mereciam ser apoiados. De outro modo, esse núcleo de desenvolvimento industrial que está implantado na Fiepe se deu também com recursos do Sistema CNI.

O Brasil e a crise - O Brasil fez uma travessia muito bem sucedida até agora da crise. Nós sofremos um grande impacto da crise no último trimestre do ano passado, uma fortíssima queda da atividade industrial, provocada não apenas por conta da questão do crédito, da indisponibilidade de linhas de financiamento, inclusive de linhas externas, mas também da forte retração do comércio internacional. As exportações do Brasil, sobretudo da indústria, caíram fortemente. Então, num primeiro momento nós sentimos fortemente a crise. O emprego industrial foi afetado de maneira muito séria, mas felizmente desde janeiro o Brasil experimenta um processo de recuperação mês a mês.

Os desafios do Brasil - O Brasil trabalha em duas agendas simultaneamente: uma agenda mais velha e uma agenda mais nova. Há alguns países que resolveram a agenda antiga e que hoje estão inteiramente dedicados à chamada agenda nova. No Brasil nós não temos essa opção. Nós temos que trabalhar simultaneamente na agenda de correção do passado e na agenda do futuro. O que é a agenda de correção do passado? É que nós ainda temos problemas de logística, de burocracia, de custo de capital, deficiência de infraestrutura, um sistema tributário anacrônico.

Então nós temos que continuar a trabalhar nessa agenda para reduzir o chamado “Custo Brasil”, que é um conjunto de ineficiências que o nosso país ainda tem. É, por exemplo, ter uma matriz de transporte mais eficiente, conjugando a hidrovia com a ferrovia. E não apenas você ficar dependendo do transporte rodoviário, que é o mais caro de todos os modais de transporte.

Temos que trabalhar também na outra agenda, que nos liga ao futuro, e que é a agenda do desenvolvimento de competências. Você tem que desenvolver competências novas. E aí tem a questão da educação, o grande desafio de melhorar o sistema educacional e de investir muito fortemente na inovação. Os ganhos de produtividade da indústria no futuro vão depender da inovação. Então se a indústria não inovar ela está condenada a morrer nesse cenário de competição em escala global.

A luta pela micro e pequeno empresa - Esse é um tema que sempre me fascinou. E até no meu trabalho parlamentar eu procurei dedicar atenção à causa da micro e pequena empresa brasileira. Um país só se desenvolve se no seu tecido industrial houver uma presença forte da pequena e da micro-empresa.

Quando se tem um número maior de empresas no ambiente empresarial, você tem asseguradas as melhores condições de distribuição de renda numa sociedade, porque a pequena empresa é a que melhor realiza os ideais de uma economia de livre mercado e de concorrência, de competição. A grande empresa é que se traduz na figura do monopólio, do oligopólio.

Então o melhor ambiente empresarial é aquele onde tem a pequena e média empresa. E isso tudo proporciona ainda que a sociedade possa ter uma cultura empreendedora, que também é uma coisa que faz a diferença nas sociedades. Há sociedades que se acostumam há viver da tutela estatal, são sociedades que não geram iniciativas. E tem sociedades que vivem mais da iniciativa do pequeno empreendedor. Essa energia empreendedora é que pode fazer a diferença na vida dos países.

O que faltava no Brasil? Faltava oferecer ao pequeno empresário melhores condições para que ele atue. E aí a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa foi um avanço para melhorar a vida do pequeno, que passa a ter um regime simplificado de tributação. Você recolhe os impostos todos numa única guia, acabar com a burocracia. Como é que o pequeno se formaliza se o caminho da formalização é tão penoso, é tão difícil? Então vamos simplificar a vida do pequeno, vamos oferecer melhores condições de crédito, vamos estimular a micro e pequena empresa através de um regime de compras governamentais.

E o Governo do Estado de Pernambuco está começando a fazer isso, a colocar a pequena empresa nas suas compras. Um bom instrumento para apoiar a pequena empresa é na hora em que o Governo vai comprar. Prestigia a pequena empresa, compra dela, para sustentá-la. Então o desenvolvimento de Pernambuco também vai passar pela criação de um ambiente melhor para os pequenos negócios. E tudo isso vem acontecendo, porque há uma legislação hoje que estimula mais os pequenos negócios, embora eu reconheça que ainda existem dificuldades imensas, sobretudo para o pequeno ter acesso ao crédito, que no Brasil ainda é muito pouco acessível.

Trabalhamos para aprovar a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Fizemos uma mobilização nacional. Percorremos vários estados do Brasil. Eu era na época presidente do Conselho do Sebrae Nacional. Fizemos um trabalho não só informando a proposta técnica como participando de um processo de mobilização no país inteiro. Percorremos o país, mobilizamos vários setores e ao final o Congresso Nacional, com a participação de vários parlamentares que integram a Frente da Micro e Pequena Empresa, conseguimos aprovar.

E agora aprovamos a Lei do Micro Empreendedor Individual, que é aquela que contempla quem tem uma pequena atividade, que fatura até R$ 36 mil por ano, e que passou a ter também uma legislação nova, mais estimuladora. Então, essa questão da micro e pequena empresa é algo fundamental para o desenvolvimento de Pernambuco.

As agendas municipais de desenvolvimento - Nós desenvolvemos aqui, há algum tempo, quando éramos (presidente) da Federação das Indústrias. E continuamos, porque a Federação das Indústrias de Pernambuco continuou com esse trabalho, que é a criação das agendas micro-regionais. É um processo através do qual você leva até uma determinada comunidade um suporte técnico para que ela própria discuta o seu processo de desenvolvimento. Quais são os rumos? Quais são os objetivos estratégicos? Que ações devem ser priorizadas? Essa é uma discussão que as sociedades é que realizam. Então esse trabalho das agendas micro-regionais foi um trabalho muito bem-sucedido em várias regiões de Pernambuco, com o know how da Federação das Indústrias, e com a participação de uma equipe técnica multidisciplinar do melhor nível possível, que dá suporte.

O que é importante nesse trabalho? Não é só o produto ao final, que é uma agenda com uma visão do que é que deve ser priorizado no futuro. Mas tão ou mais importante do que o produto é o processo de mobilização que essa discussão da agenda proporciona. Vários segmentos da sociedade, o segmento empresarial, as lideranças comunitárias, as lideranças do setor primário da economia, a classe política daquela comunidade. Todos juntos discutindo e apontando os rumos do desenvolvimento do município.

Então essa foi uma experiência muito interessante e muito gratificante que fizemos. Fizemos a Agenda Pró-Garanhuns, a Agenda Pró-Caruaru, recentemente a Agenda Pró-Arcoverde e todas foram construídas com uma intensa participação das comunidades. E com um grande resultado na compreensão de que a sociedade é que tem que estar articulada, para que os governos reajam a essas demandas de maneira adequada. Se a sociedade souber o que deseja, e tiver condições de se organizar e de se articular, os governos tem que reagir a essas demandas. Quanto mais articuladas as sociedades, melhores os governos. Essa é a compreensão.
Da Assessoria de Comunicação/Armando Monteiro Neto (81. 3421.2565)