Arte e Tecnologia na Torre Malakoff


Giselle Beiguelman/Divulgação

A Fundarpe, através da sua Coordenadoria de Artes Visuais, realiza, dentro das ações do 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, a exposição O Lugar Dissonante, que será aberta no dia 3 de junho, às 19h, na Torre Malakoff. A exposição, segunda mostra do Salão, conta com curadoria do artista plástico paulista Lucas Bambozzi, com trabalhos reconhecidos dentro e fora do Brasil na seara das instalações, videoclipes e vídeos experimentais, e da pesquisadora e crítica de arte pernambucana, Clarissa Diniz – uma das editoras da Revista Tatuí de Crítica de Arte. A exposição fica em cartaz até o dia 26 de julho.
Os trabalhos para a exposição lidam, em suas técnicas e procedimentos, com as relações estreitas entre arte e tecnologia. Abordando manifestações distintas de tecnologia para repensar a existência do homem; incluindo embates com a interatividade, a simultaneidade, o erro, as ideias de futuro e passado, a reflexão sobre o que é high ou low-tech... Debruçados sobre estas instigações, os artistas Lourival Cuquinha e Thelmo Cristovam (PE), Giselle Beiguelman (SP), Paulo Nenflídio (SP), Fernando Velásquez (Uruguai/SP) e Ricardo Carioba (RJ).

Lourival Cuquinha & Thelmo Cristovam/Divulgação


Os artistas Lourival Cuquinha & Thelmo Cristovam mostram a obra Ouvidoria (2008). Como uma das características, a sobreposição de tempos e espaços, nas suas respectivas características – inclusive culturais - e sua declarada problematização das concepções de público e privado. No período da exposição, alguns telefones públicos (devidamente com placas de aviso) ligarão gratuitamente.

Com a particularidade de que essas ligações serão transmitidas para um espaço expositivo totalmente escuro. Esses áudios das ligações serão também mixados por um software e transmitidos segundos depois para que sejam ouvidos na galeria. O áudio final será uma mistura deles. A quantidade de línguas diferentes levará esta mistura auditiva na direção estética de uma metáfora entre globalização e torre de babel.

Nenflídio, Teia (2008), estabelece uma relação complexa e sofisticada entre artesania e tecnologia, entre o high e o low tech, aproximando campos que tradicionalmente são compreendidos como distintos e hierarquizados. Seu trabalho amplia também a concepção de som, distinguindo-o da idéia de música para revelar suas inúmeras possibilidades de elaboração, algumas das quais completamente mecânicas e dependentes de interações homem-máquina mediadas por dispositivos originalmente não concebidos para a geração de som.

Suite 4 Mobile Tags (2009) é o nome do trabalho da artista Giselle Beiguelman. Esse é o projeto mais recente da artista, que é considerada uma pioneira no trato com tecnologias móveis no Brasil. Na verdade, experimentar tecnologias de modo a descobrir possibilidades de utilização ainda não apontadas faz parte das intenções de grande parte dos artistas que lidam diretamente com tecnologias da comunicação.

Como uma espécie de ready-made, Suite 4 Mobile Tags, explora sonoramente os tags do tipo QR-code, gerando um trabalho em que, a partir da interação do público, é possível articular sons e, inclusive, compor músicas aleatoriamente, mediante um processo de autoria coletiva a partir de celulares. O trabalho é realizado em parceria com o músico Maurício Fleury (banda Multiplex).

Fernando Velázquez apresenta como trabalho Your Life, Our Movie (2007), que toma a base de dados de tags e imagens do flickr (www.flickr.com) para compor vídeos a partir dos tags sugeridos pelo público – estimulados a se verem como co-autores da obra - cruzados com aqueles indicados pelo “autor” – a pessoa que postou a imagem no flickr, que pode ou não ser o autor dela. A tradicional idéia de autoria é problematizada, passando a incorporar não só “autorias anônimas” como, também, aleatoriedade como processo construtivo.

O trabalho do carioca Ricardo Carioba Ylom (2009) dá sequência à sua pesquisa envolvendo animações gráficas e áudios gerados sinteticamente, em vibrações rítmicas que buscam uma sinestesia a partir de elementos mínimos. Trata-se de uma montagem envolvendo quatro projeções sincronizadas ao longo de uma parede, que remetem à idéia de um cubo planificado, criando-se um ambiente imersivo que tangencia a vertigem e o hipnótico.

O trabalho é realizado a partir de scripts e componentes de programação existentes no software After Effects. As imagens pulsam em função da mudança de parâmetros utilizados na composição dos gráficos, sempre em função do áudio (criado com softwares como Logic). O processo de realização envolve conceitos generativos que definem tanto o resultado sonoro como a estética das imagens (em seus parâmetros de intensidade, posição e pulsação).

Para ler mais:
Texto curadores: Lucas Bambozzi e Clarissa Diniz
A exposição O Lugar Dissonante foi pensada a partir da premissa de que a Torre Malakoff está dando boas-vindas a uma produção artística atravessada por tecnologias recentes, em uma suposta vocação que permita reverberar formas de reflexão para pesquisadores, artistas e público visitante. O entendimento de tecnologia, porém, não se restringe à técnica, mas se estende como forma de pensamento e ação, como contexto de mediações, como apropriação de meios, como extensão de práticas sociais.

A arte, neste início de século, tem buscado formas de incitar rearticulações de pensamento por meio de abordagens múltiplas, pelo uso de tecnologias variadas e a partir de uma crescente aproximação do campo social, que terminam por promover a reconfiguração da percepção num sentido expandido.

Assumindo uma concepção de arte para além do campo visual (e relativizando a ideia de representação), buscamos obras em diálogo com uma definição transitória de imagem, em negociação com o espaço aéreo e o som. Proposital ou incisivo, tal foco chama a atenção para a diluição das fronteiras entre artes visuais e som/música, mas não apenas. Os diálogos que flexibilizam e dilatam essas possibilidades acontecem também nos domínios do movimento, da virtualidade, do corpo, da simultaneidade, da automação, da apropriação, do código, da mobilidade, do randômico e da alternância entre interação e participação.

Encontramos nos artistas convidados a ressonância do interesse crítico diante dos contextos e suas relações sociais (e físicas) específicas, o que configura uma produção artística cada vez mais context-specific, que retira a arte de uma lógica objetual para pensá-la como experiência a um só tempo perceptiva-cognitiva-semântica, cujo foco se desloca decisivamente para o sujeito.

O Lugar Dissonante revela-se, em síntese, como um pequeno recorte de artistas brasileiros cujas obras levam em consideração, em seu processo de elaboração e realização, os aspectos “não alisantes” do uso tecnológico. Na mostra, é enfatizada a relação entre sujeitos, espaços e sons em suas divergências, seus trânsitos e suas colaborações particulares e comuns. Ao reunir trabalhos que problematizam, por exemplo, as noções de público e privado, autoria, som, comunicação, colaboração, descontrole e tempo real, atravessados por um interesse de espacialização entre todos compartilhado, a exposição instaura um lugar onde vivenciar consonâncias e dissonâncias, num convite à experimentação perceptiva e social.

SALÃO DE PERNAMBUCO - A edição 2008/2009 do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco homenageia o pintor Jairo Arcoverde. Promovido pelo Governo de Pernambuco, através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), esta edição concede um total de 21 bolsas, entre bolsas para pesquisa e produção e 24 prêmios para diversas áreas de artes visuais, como projeto de Pesquisa em Artes Plásticas, projeto de Pesquisa e Produção em Fotografia, Pesquisa sobre Artes Visuais em Pernambuco e projeto para Vídeo-documentário em Artes Visuais.

O 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, criado em 1942, tem como diferencial a implementação de um programa de bolsas de pesquisa que ao invés de premiar obras prontas, seleciona projetos que serão fomentados pela instituição, com o intuito de incentivar as áreas de pesquisa, formação, difusão, etc. Os projetos desenvolvidos ao longo de 2008 serão apresentados em grande exposição em novembro deste ano.

Exposição O Lugar Dissonante (47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco)
Local: Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, s/n. Recife Antigo)
Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 19h; e sábados e domingos, das 15h às 20h.
Para agendamento de visitas: (81) 3184.3182 educativosalaope@gmail.com

Da Assessoria de Imprensa/Aponte Comunicação