Pais de Isabella Nardoni pretendiam acusar porteiro, diz a polícia

Foto:Google Imagem
Do Jornal do Commercio/PE
Publicado em 03.05.2008
SÃO PAULO – O casal Alexandre Nardoni, 29, e Anna Carolina Jatobá, 24, pretendia colocar o porteiro Valdomiro dentro do apartamento, na cena do crime. A conclusão é da delegada Renata Pontes e consta do relatório policial entregue ao Ministério Público na última terça-feira. Para a policial, os dois suspeitos de assassinar Isabella, 5 anos, filha de Nardoni, pretendiam levar o funcionário do prédio até o apartamento.
“Se assim o fizesse, quais não seriam as acusações dos indiciados em relação ao mesmo? O que não seriam capazes de insinuar ao ser revelado que o porteiro estivera dentro do apartamento deles?”, indaga a delegada em seu relatório.
O depoimento do morador Antônio Lúcio Teixeira, do apartamento 12 do Edifício Residencial London, serviu para confirmar a suspeita da polícia. Alexandre disse ao porteiro Valdomiro para que ele fosse até o apartamento verificar se havia alguém em seu interior, contou o vizinho à polícia.
O mesmo vizinho impediu Valdomiro de deixar seu posto. A delegada Renata Pontes ainda ressaltou, em seu relatório, que o casal tentou atribuir suspeitas ao zelador e a um funcionário terceirizado do condomínio.
No relatório final da Polícia Civil, está montada toda a cena do crime. Os autores do crime, conforme o relatório são o pai da garota e a madrasta dela. A menina de 5 anos começou a ser agredida no carro da família, onde chegou a sangrar, e depois foi levada, possivelmente desacordada, para o apartamento onde continuou a sofrer agressões, antes de ser atirada do 6º andar do edifício, no dia 29 de março.
A conclusão tem como base a perícia feita pelo Instituto de Criminalística, que afirma que o sangue encontrado na cadeirinha de bebê que estava no banco traseiro do Ford Ka tem o perfil genético de Isabella. “Isso exclui a possibilidade de o sangue ser de outro integrante da família”, diz um dos peritos responsáveis pelo laudo. E, principalmente, descarta a hipótese de um terceiro elemento na cena do crime.
O resultado do perfil genético é menos preciso do que o exame de DNA, que aponta com 99,9% de certeza que determinada amostra de sangue pertence a um indivíduo. Os peritos explicam que, diante daquele cenário que encontraram, é possível afirmar que se trata do sangue de Isabella – a informação serve como ponto de partida para a polícia imputar o assassinato ao casal. “O perfil genético é como uma impressão digital incompleta. Para identificar uma impressão digital, são necessários 12 pontos coincidentes, mas com 8, dentro de um detalhamento de uma cena de crime, já é possível firmar a identidade”, diz um perito.
Na cadeirinha de bebê foram encontradas duas manchas sobrepostas: uma de sangue, com o perfil genético de Isabella, e outra de vômito, com características genéticas masculinas. Os peritos inferem que o vômito seja de Cauã, de 1 ano, filho de Alexandre e Anna Carolina.
A defesa do casal, no entanto, continua considerando que as provas periciais usadas para embasar o relatório final do inquérito policial são frágeis e abrem brechas para contestação. O advogado Rogério Neres de Sousa afirma que o sangue encontrado no veículo não foi provado 100% como sendo de Isabella – o que poderia ajudar a desmontar a tese da polícia.
PREVENTIVA

A defesa afirmou ontem que não há motivos para a Justiça decretar a prisão preventiva do casal, o que deve acontecer no começo da semana que vem. O juiz Maurício Fossen e o promotor Francisco Cembranelli analisam o inquérito da Polícia Civil sobre o caso. O promotor deve emitir pareceres sobre o pedido de prisão preventiva feito pela polícia e sobre a possibilidade de acusar formalmente os dois até terça-feira. O juiz, então, decide sobre os dois pontos.
No pedido de prisão preventiva, a Polícia Civil argumenta que existe a possibilidade de, solto, o casal alterar provas obtidas pela perícia – coagindo testemunhas, por exemplo – ou fugir. De acordo com Sousa, os dois estão no apartamento da família Jatobá há vários dias, sem nem pôr a cabeça na janela e, por isso, jamais poderiam alterar quaisquer provas. Sousa ressaltou que, sempre que foram intimados, os dois compareceram, e que não há provas de que eles planejem fugir.
Se a Justiça decretar prisão preventiva, o casal ficará no mínimo três meses detidos. Esse é o prazo legal, mas que pode se estender até que termine o julgamento do casal.