Documentário 'Doméstica" estréia sexta-feira (19), no Cinema da Fundação

"DOMÉSTICA" nesta sexta-feira, 19 de julho, nos cinemas do Recife


Novo longa-metragem "Domésticas" do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro entra em cartaz, a partir desta sexta-feira (19), no Cinema da Fundação, e a partir do dia 23 de julho, na Sessão Cine Cult do Cinemark (Shoppingo RioMar). O filme foi o único latino na competição principal do IDFA (Festival de Documentários de Amsterdã), considerado pelo especialista em documentários Amir Labaki como o 'Cannes do documentário'. Além de ganhar Prêmio de Melhor Filme, no Cachoeira Doc, e o Prêmio do Júri, no Panorama de Cinema de Salvador. 

Sinopse - Sete adolescentes assumem a missão de registrar, por uma semana, a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho. Trailer: https://vimeo.com/70134890.

SINOPSE - Sete adolescentes assumem a missão de registrar por uma semana a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho. 

CONTEXTO - A empregada doméstica trabalha diariamente nos lares brasileiros e faz parte do cotidiano afetivo das famílias. Em 2011, dados do Ministério do Trabalho indicam que quase 15% das trabalhadoras domésticas do mundo estão no Brasil. A contratação deste tipo de profissional, quase obrigatória entre as classes média e alta do país, embaralha as noções de afeto e trabalho, de público e privado, de sobrevivência e convivência. São relações de emprego com origens históricas, reprocessadas em um contexto de costumes favorecidos pelos altos índices de pobreza e miséria. No Brasil, ocupando esta condição de empregada doméstica estão cerca de 7 milhões de mulheres, em sua maioria negras (56%, IBGE, 2009), que enfrentam no cotidiano as consequências da desigualdade de gênero, raça e classe social. 

O documentário 'Doméstica' também provoca a reflexão sobre os resquícios da cultura escravocrata na contemporaneidade. Quase 80 anos depois da primeira publicação do livro Casa Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, ainda hoje é perceptível o resquício histórico e as fortes conexões que o trabalho doméstico mantém com a escravidão. Muitos dos trabalhadores domésticos possuem jornadas de trabalho exaustivas; fazem de seus ambientes de trabalho, também domicílio, onde é reservado um pequeno espaço ou o quarto dos fundos da casa. Porém, embora presente na maioria das residências e praticamente institucionalizado no Brasil, o valor social do trabalho doméstico não é reconhecido e a categoria não têm direitos trabalhistas básicos. Até a conquista do PEC das Domésticas, dos 34 direitos previstos na Constituição Federal para todos os profissionais, as empregadas domésticas possuiam apenas 7. O filme atenta para o quão complexa é a relação trabalhista que tem resquícios do período escravocrata e como isso ecoa no Brasil contemporâneo.

CARTA DO DIRETOR - O filme tem como premissa questionar o reparatório sócio-cultural brasileiro historicamente cristalizado referente ao tema das relações trabalhistas, mais especificamente, sobre as empregadas domésticas que trabalham diariamente nos lares e passem a fazer parte do cotidiano afetivo das famílias. Assim, entreguei a câmera para que os jovens registrassem o cotidiano das empregadas. Decidi pelos jovens pelo fato de estarem num momento de descoberta, vivendo num mundo que hora é cúmplice das empregadas, hora reproduz as relações de poder da casa. É nesta dualidade na relação que o filme se inscreve e se desdobra. Ao receber as imagens brutas, pude me envolver de forma política e emocional com o resultado e assim me lançar na intimidade truncada das relações, deixando escapar a minha leitura subjetiva na "organização" e "escolha" das imagens. 

O desafio da direção, neste filme, diferente do que gritar "ação" e "corta", foi partilhar as subjetividades, agendar os encontros, elaborar os procedimentos de forma que este risco da imagem filmada pelo outro me trouxesse surpresas, inquietações... A ideia foi desafiar os jovens a uma inversão de olhar, a observar por uma semana a pessoa que, em muitos casos, o observou pela vida inteira. E nesta semana de redescoberta do olhar, proporcionar uma re-negociação de papeis. 

O que descobri com este filme é que em cada família fica latente uma forma muito pessoal de se relacionar com a empregada. O afeto é negociado na esfera pessoal, na intimidade. E isso não temos como mensurar. O filme revela essa diferença de relações que pulsa diferentemente de residência para residência diante de todas as in(com)possibilidades que o binômio afeto/trabalho nos coloca como desafio político e estético. O que me interessa também no filme é a capacidade de fabular sobre a negociação da imagem empreendida entre os jovens e as empregadas, cada um a seu modo. Se os jovens aproveitaram uma relação de poder dada para adentrar na intimidade da empregada, ou se as empregadas usaram este artifício audiovisual na relação para se auto-ficcionalizar, o que me deixa feliz é a potência dessa imprecisão que emana no filme do início ao fim.

FICHA TÉCNICA
'Doméstica' (vídeo HD I 75 minutos I cor I stereo) é uma produção da DESVIA, realizada através de patrocínio do Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura / Governo de Pernambuco).

Concepção, Direção e argumento I Gabriel Mascaro

Produtora I Rachel Ellis

Montagem I Eduardo Serrano

Com I Dilma dos Santos Souza, Flávia Santos Silva, Helena Araújo, Lucimar Roza, Maria das Graças Almeida, Sérgio de Jesus & Vanuza de Oliveira 

Fotografia I Alana Santos Fahel, Ana Beatriz de Oliveira, Jenifer Rodrigues Régis, Juana Souza de Castro, Luiz Felipe Godinho, Perla Sachs Kindi, Claudomiro Carvalho Neto

Pesquisa e produção local I Carolina Fernandes (Manaus), Livia de Melo (Recife), Marcelo Grabowsky (Rio de Janeiro), Isabel Veiga (Rio de Janeiro), Marcella Sneider (São Paulo), Natalice Sales (Salvador), Tiago de Aragão (Brasilia)

Edição de Som I Eduardo Serrano

Colaboração de argumento I Luis Fernando

Mixagem I Pablo Lopes (Fabrica Estúdios)

Colorista I Pablo Nóbrega (Dub Colour)


SERVIÇO:
A partir do dia 19/07
Cinema da Fundação – Fundaj
Rua Henrique Dias, 609, Derby, Recife.

A partir do dia 23/07
Cinemark - Sessão Cine Cult
Shopping RioMar
Av. República do Líbano, s/n, Pina, Recife.